SABARÁ 1976

Trocamos saliva e sucos de nossos sexos na noite escura e gelada. Sentíamos o frio da pedra sob os corpos sedentos de prazer, como na música de Milton. Quando clareou, descobrimos que festejamos a vida sobre os despojos dos mortos. Ela se foi para o México e o cemitério, tão hospitaleiro e acolhedor, aquece minha memória.

XINTÔ

Ele tinha o controle das águas. Comandava chuvas, dominava as marés e separava cachoeiras. Sabia que quando deixasse a aparência humana se transformaria em um enorme dragão com a forma de rio e descansaria seu corpo gélido em uma montanha altiva ligando neves ao mar. Vivia solitário e as pessoas não imaginavam o grau de sua ligação com a humanidade e a natureza. Era segredo de alquimista, envolto em névoa de poeira repousada em livros velhos, bolachões raros, CDs de jazz e filmes clássicos.